terça-feira, 30 de setembro de 2014

Quatro anos de vida: este é o preço da obesidade.

A obesidade é definida como excesso de gordura, e a sua medida, por muito tempo e por razões práticas, era feita pela avaliação do peso corporal, por meio de tabelas de peso ideal. Por volta dos anos 80, o peso ideal foi substituído pelo índice de massa corporal (IMC), que faz uma relação entre peso e altura, sendo uma avaliação mais acurada da obesidade. É considerado com sobrepeso o individuo com IMC de 25 a 30 e obeso o que tem IMC acima de 30. Mais recentemente, a circunferência abdominal tem sido agregada à avaliação de obesidade.
O excesso de gordura é amplamente reconhecido em todo o mundo como uma das principais ameaças à saúde, aumentando o risco de várias doenças crônicas como diabete tipo 2, doença cardiovascular e hipertensão arterial. A obesidade tem crescido de forma tão explosiva nas últimas duas décadas que vem sendo tratada como epidemia, e já existem estudos estimando um possível impacto desta epidemia num futuro próximo, não só sobre as doenças crônicas, mas também sobre a expectativa média de vida da população.
Uma pesquisa publicada na última semana na revista científica American Journal of Public Health examinou, em adultos, a associação entre a obesidade, avaliada pelo IMC, e o risco de morte por qualquer causa ou, especificamente, por doença cardiovascular. Os resultados foram produzidos a partir da avaliação de 16.868 pessoas de peso normal, com sobrepeso e obesas, por mais de uma década, nos Estados Unidos.
A análise estatística dos resultados da pesquisa demonstrou que a obesidade está associada a um aumento de 20% no risco de morte por qualquer causa ou por doença cardíaca, o que corresponde aos obesos morrerem em média 4 anos mais cedo do que os indivíduos de peso normal. Este risco aumenta quando são avaliados adultos obesos de 45 a 64 anos. Estes morrem 7 anos mais cedo quando comparados com adultos de peso normal da mesma faixa etária.
Estes resultados expõem o grande impacto que a recente epidemia de obesidade produz sobre o risco de mortalidade e morte prematura entre adultos. Este impacto tende a crescer num futuro próximo, pondo em risco, inclusive, o rápido crescimento da expectativa média de vida que tem-se verificado nas últimas décadas.
Agora, como nunca, a obesidade deve ser encarada como uma doença, pois, além de todos os prejuízos que traz aos seus portadores no presente, ameaça comprometer uma das principais conquistas da humanidade num futuro próximo, com a desaceleração do crescimento da expectativa média de vida.
Fonte
- American Journal of Public Health - doi: 10.2105/AJPH.2013.301597

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Uso de adoçante artificial pode alterar o metabolismo da glicose contribuindo para a obesidade e diabete

O adoçante artificial tem sido amplamente utilizado tanto nas dietas para reduzir o peso como nas dietas de controle do diabete. Os chamados adoçantes artificiais não-calóricos estão entre os aditivos alimentares mais usados em todo o mundo e são considerados seguros e benéficos no tratamento de obesidade e diabete. A lógica de seu uso baseia-se no fato de conterem compostos que têm o mesmo gosto que o açúcar, porém sem as calorias. Dessa maneira, o indivíduo pode ingerir alimentos e bebidas com sabor doce sem se preocupar com o açúcar e seus efeitos sobre o peso ou diabete.
Em alguns países, porém, o uso de adoçantes artificiais tornou-se indiscriminado e começaram a surgir questionamentos na literatura médica sobre a sua verdadeira eficácia.
Em 17 de setembro passado foram publicados online resultados de uma pesquisa sobre este tema na revista Nature, uma das revistas científicas de maior impacto na atualidade. Os pesquisadores estudaram o efeito dos adoçantes artificiais em camundongos e em humanos.
Camundongos alimentados com adoçantes artificiais apresentaram maior concentração de açúcar no sangue do que aqueles que não receberam adoçantes.
No estudo com humanos foram avaliados vários parâmetros clínicos em um grupo de 381 indivíduos. Houve uma correlação positiva entre alterações metabólicas e consumo de adoçante. Aqueles com maior consumo de adoçantes apresentaram maior peso, maior circunferência abdominal, maior glicemia de jejum e maior percentagem de hemoglobina glicosilada, todos parâmetros indicativos de alterações metabólicas. É importante salientar que este tipo de estudo em humanos não tem a capacidade de comprovar que as alterações foram causadas pelo adoçante.
Baseado em um conceito recente de que o metabolismo da glicose e o desenvolvimento de obesidade e diabete estão associados ao tipo de flora intestinal, os pesquisadores testaram a hipótese de que os adoçantes artificiais poderiam alterar a flora intestinal. O mecanismo proposto é o de que certas bactérias reagem aos adoçantes artificiais secretando substâncias que produzem uma resposta inflamatória que produz mudanças na capacidade do organismo processar a glicose. Esta mesma resposta é observada quando muito açúcar é ingerido.
Para testar a hipótese da flora intestinal os pesquisadores administraram antibióticos nos camundongos que receberam adoçantes artificiais. O nível de açúcar no sangue voltou ao normal. Além disso, foi feito um transplante de bactérias do intestino de animais que receberam adoçante para animais que nunca tinham recebido adoçante. Houve um aumento da glicose no sangue destes animais que anteriormente eram saudáveis, indicando que a flora intestinal tem efetivamente uma participação na metabolização da glicose e que os adoçantes artificiais, assim como o açúcar em excesso, podem alterar esta flora.
O conjunto destes resultados abre perspectivas para novos estudos que possam esclarecer definitivamente a relação entre adoçantes e obesidade. Até isso acontecer parece prudente não exagerar no adoçante e no açúcar.
A criação do hábito de evitar alimentos adoçados, seja por açúcar ou adoçante artificial, pode trazer enormes benefícios à saúde. E, para matar a sede, nada de bebida doce ou refrigerante! Água é o melhor remédio.
Fonte
-Nature doi:10.1038/nature13793

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Quer reduzir o risco de diabete tipo 2? - Frutas vermelhas, chá e chocolate

Diabete tipo 2 é uma doença metabólica crônica que se caracteriza pelo aumento do açúcar no sangue, e vem tomando proporções epidêmicas nos últimos anos. Está associada com doença cardiovascular e hipertensão arterial, e seu desenvolvimento é ligado ao estilo de vida, principalmente o padrão alimentar, obesidade e sedentarismo. Para agravar a situação, a maioria dos indivíduos que possuem riscos objetivos de desenvolver a doença ignora estes riscos.
Novas e gostosas notícias vindas do Reino Unido podem rechear o nosso dia-a-dia com elementos que servem de prevenção para o desenvolvimento de diabete tipo 2. Uma pesquisa realizada na Inglaterra, e recentemente publicada na revista científica The Journal of Nutrition, sugere que substâncias encontradas em grande quantidade no chá, frutas vermelhas e chocolate auxiliam na proteção contra o diabete.
O estudo foi conduzido em 1997 mulheres de 18 a 76 anos, e observou a associação entre alimentação e a glicemia (quantidade de açúcar no sangue), a proteína C reativa, que é um marcador de inflamação crônica do organismo (a inflamação crônica está associada com diabete, obesidade doença cardíaca e câncer), e a concentração de insulina no sangue (que indica o grau funcionamento da insulina). A atenção foi dirigida para alimentos que contêm um grupo de substâncias chamado de flavonóides, especificamente a flavona, encontrada em maior quantidade em chá, vegetais e temperos como aipo e salsa, e a antocianina, encontrada em uvas, frutas vermelhas e vinho tinto.
Os resultados revelados pela pesquisa indicam que o consumo de altas quantidades de flavonas e antocianinas está associado a uma melhor regulação do açúcar no sangue, a um melhor funcionamento da insulina e a um menor nível de inflamação crônica.
Estes resultados se inserem em um robusto conjunto de evidências científicas que reforçam a importância da boa alimentação na prevenção de doenças e promoção da saúde.
Fonte
- The Journal of Nutrition, 144: 202–208, 2014.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Terapia com testosterona aumenta o risco de infarto

O uso de testosterona tem crescido nos últimos anos. A maior parte do uso se concentra entre homens de meia idade e com idades acima de 65 anos, na expectativa de superar perdas de energia sexual e massa muscular, associadas à diminuição de testosterona. Muitos jovens adeptos do fisiculturismo passaram, também, a usar testosterona e derivados para apressar o ganho de massa muscular. O aumento da venda de testosterona tem sido vertiginosa, segundo fontes do setor, superando a do Viagra no ano de 2013 nos Estados Unidos.
Algumas pesquisas recentes já vinham alertando para os perigos da utilização da testosterona fora das indicações muito rígidas para determinados problemas endocrinológicos. Porém, a maior parte destes estudos não foi conclusiva, devido, principalmente, a limitações metodológicas, o que reduz o seu impacto e aplicabilidade. No entanto, no dia 29 de janeiro último, foi publicado uma pesquisa mais ampla e consistente na revista científica online PLoS One, onde os cientistas conduziram um estudo utilizando uma base de dados de mais de 55 mil indivíduos.
Foi avaliado o risco de infarto agudo do miocárdio pelo acompanhamento da incidência deste evento no período de 90 dias após o início do uso de testosterona. O risco de ataque cardíaco dobrou neste período para homens acima de 65 anos e para aqueles abaixo de 65 anos com história de doença cardíaca. Após os 90 dias, aqueles homens que não continuaram com o tratamento com testosterona retornaram ao risco cardíaco que tinham antes de tomar o hormônio.
Os pesquisadores alertam que não existem evidências que garantam segurança para o uso em jovens sem história de doença cardíaca e que usam o hormônio sem uma indicação médica adequada.
Desde que este tipo de estudo epidemiológico não determina relações de causa e efeito, os possíveis mecanismos pelos quais a reposição de testosterona causaria o ataque cardíaco são especulativos. Um caminho plausível é o provável efeito da testosterona em promover a formação de coágulos, levando a uma obstrução das artérias coronárias e o consequente infarto. Certamente, mais estudos são necessários para esclarecer a biologia desta relação.
Até lá, o uso de testosterona deveria ser restrito às indicações médicas indiscutíveis, e baseado nas melhores evidências científicas disponíveis.
Fonte
- PLoS ONE 9(1): e85805. doi:10.1371/journal.pone.0085805.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O ritual de tomar o remédio junto com a informação ao paciente pode influenciar o tratamento

O desenvolvimento da medicina tem sido muito expressivo nas últimas décadas e hoje em dia existe uma quantidade enorme de medicamentos que são usados regular ou eventualmente pela população para combater doenças físicas e emocionais.
Os estudos que fazem o desenvolvimento e teste de novos medicamentos utilizam como controle negativo uma substância inativa em um grupo de pacientes que não sabem que a pílula não contém o princípio ativo que agiria sobre a doença. Esta substância é chamada de placebo. Muitas vezes um placebo é usado clinicamente, pois o benefício psicológico e a expectativa de bem-estar do paciente contribuem decisivamente para o seu tratamento, mesmo que não tenha nenhuma ação farmacológica direta sobre a doença ou seus sintomas.
Há uma idéia geral em medicina que a eficácia de um medicamento, assim como de um placebo, é influenciada por fatores como a expectativa criada no paciente pelas informações dadas pelo médico sobre aquele tratamento. Supunha-se que o efeito positivo do placebo era alcançado quando o paciente não sabia que a pílula que estava ingerindo não continha um principio ativo efetivo, mas era informado que aquele fármaco poderia trazer benefícios ao seu tratamento. Muitas vezes, até a cor do remédio pode influenciar a percepção do paciente sobre sua real eficácia; uma injeção de cor vermelha, por exemplo, pode dar a sensação de que aquele é um remédio “mais forte” e eficiente.
Recentemente uma pesquisa publicada na revista científica Science Translational Medicine abre uma nova perspectiva de interpretação sobre o efeito placebo. Os participantes do estudo eram pacientes com enxaqueca. A enxaqueca foi escolhida como modelo por ser uma desordem de natureza repetitiva, permitindo aos pesquisadores comparar a eficácia do medicamento e do placebo em ataques consecutivos, usando em cada ataque diferentes condições de informação sobre o fármaco que o indivíduo estava tomando. O primeiro ataque de enxaqueca do participante no estudo não era tratado e servia como controle. Em seis ataques subsequentes o participante tomava uma pílula que era um placebo ou uma droga de conhecida eficácia sobre enxaqueca (rizatriptano). A pílula era administrada sob três condições de informação diferentes, etiquetadas como placebo, placebo ou fármaco e fármaco.
A intensidade da dor era registrada em um escore de 0 a 10 em diferentes tempos após a ingestão da pílula. Como esperado, o fármaco etiquetado como fármaco teve mais efeito que o placebo etiquetado como placebo. Por sua vez, o placebo quando etiquetado como fármaco teve a mesma eficácia que o fármaco etiquetado como placebo (este é o conhecido “efeito placebo”). A grande novidade do estudo vem do efeito produzido quando o participante tomava a pílula de placebo etiquetada como placebo. A dor foi menor do que no primeiro quando o participante não recebeu tratamento. Mesmo sabendo que estava ingerindo uma pílula que não continha o fármaco de combate a dor, a dor diminuiu.
A conclusão dos pesquisadores é a de que a informação dada ao paciente, associada ao ritual de tomar a pílula, são importantes componentes do tratamento, seja a pílula um placebo ou um fármaco.
Fonte
- Science Translational Medicine - 8 January 2014 Vol 6 Issue 218.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Quanto mais açúcar você come, maior a chance de morrer do coração

Os efeitos nocivos do excesso de açúcar na alimentação já são bem difundidos pela comunidade científica. Esses efeitos têm sido estudados, principalmente, sobre alterações no metabolismo produzidas pelo excesso de açúcar e que levam às doenças crônicas como a obesidade e diabete tipo 2.
Um estudo produzido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e publicado recentemente na revista Journal of American Medical Association – JAMA, expõe uma associação entre o consumo excessivo de açúcar e o risco de morte por doença cardíaca independentemente dos outros problemas de saúde causados pelo excesso de açúcar. Estudos epidemiológicos prévios já indicavam que a maior ingestão de açúcar está associado com o risco de doença cardiovascular. Este novo estudo se propôs a investigar a associação entre este consumo e a mortalidade por doença cardiovascular.
A quantidade de açúcar contido em uma dieta média Americana é suficiente para aumentar em 20% o risco de morte por doença cardíaca. Em 70% dos adultos investigados, 10% ou mais das calorias diárias ingeridas provém de açúcar adicionado aos alimentos. Outros 10% de adultos ingerem 25% ou mais de suas calorias diárias provenientes do açúcar. Nestes dez por cento de pessoas que ingerem um quarto ou mais de suas calorias na forma de açúcar, o risco de morrer de doença cardiovascular é dobrado. O conjunto de dados caracteriza o que costuma se chamar uma curva dose-resposta, quanto maior a dose (no caso a ingestão de açúcar adicionado) proporcionalmente maior é o efeito (risco de morrer de doença cardíaca). Mesmo não caracterizando uma relação de causa efeito, a curva dose-resposta adiciona robustez às conclusões do estudo.
Este consumo de açúcar adicionado ao alimento muitas vezes é insidioso. Muitos alimentos industrializados possuem açúcar (não somente os doces) para melhorar o sabor, textura, etc. Nos Estados Unidos 37% do açúcar adicionado à dieta provém das bebidas adoçadas (refrigerantes e sucos adoçados). Uma lata de 355 ml de refrigerante contém, em média, 9 colheres de chá de açúcar, o que corresponde a 140 calorias. Uma lata de refrigerante por dia já é o suficiente para aumentar o risco. Os pesquisadores alertam que mesmo a pessoa ingerindo uma quantidade adequada de calorias diárias e não tendo sobrepeso, o refrigerante ou suco adoçado tomado diariamente pode ter impacto no risco de mortalidade por doença cardíaca.
Além das bebidas adoçadas o açúcar aparece nos alimentos tipicamente identificados como doces, incluindo neste grupo, as tortas, bolos, balas, sorvetes, achocolatados e iogurtes (é um alimento associado com saúde, porém é difícil encontrar aqueles naturais, não adoçados). Muitos alimentos possuem açúcar e não são doces, como molho de saladas, pães, ketchup.
A quantidade limite recomendável é muito variável. Pelo estudo aqui descrito, até 10% do total das calorias diárias de açúcar adicionado parece seguro quanto ao desfecho doença cardíaca. Cabe salientar que não está se falando da percentagem de carboidratos ingeridos, e sim do açúcar adicionado.
Deve-se ter atenção com ingredientes com a terminação "-ose" descrito nas etiquetas das embalagens dos alimentos industrializados. Frutose e sacarose são sinônimos de açúcar.
Seja a quantidade de açúcar adicionado ou alimento industrializado, vale a máxima: quanto menos, melhor.
Fonte
- JAMA Intern Med. Published online February 03, 2014. doi:10.1001/jamainternmed.2013.13563.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Suplemento de vitamina E e betacaroteno não reduz risco de doença cardíaca e de câncer

O uso de suplementos multi vitamínicos tem crescido muito nos últimos anos. Muitos estudos têm examinado a associação entre determinadas vitaminas com a doença cardíaca e o câncer, porém os resultados são conflitantes por motivos metodológicos, e, até agora, não permitiram uma conclusão mais definitiva sobre possíveis benefícios da ingestão de vitaminas.
Mesmo assim, um possível benefício, sugerido pelos resultados de algumas destas pesquisas, é apontado como uma das razões para o aumento de consumo de vitaminas. O raciocínio de que uma insuficiência de vitaminas antioxidantes (como vitaminas A, C, E, betacaroteno e ácido fólico) estaria associada às alterações vasculares que ocorrem nas doenças cardiovasculares, serviram de base para a hipótese que a suplementação de vitaminas pode reduzir o risco de determinadas doenças. Esta associação entre um possível papel da regulação das vitaminas sobre o sistema cardiovascular levou as pessoas a ingerirem vitaminas específicas, ou complexos multi vitamínicos, pensando em reduzir o risco de desenvolverem doença cardíaca. Além disso, essas informações também sugeriam que estas vitaminas poderiam reduzir a chance da pessoa ter câncer. Câncer e doença cardíaca já são, há algum tempo, as principais causas de morte no mundo todo.
Esta hipótese das vitaminas prevenirem câncer e doenças cardíacas foi recente reanalisada por um grupo de especialistas americanos, que estudaram minuciosamente mais de trinta artigos científicos publicados nos últimos anos, e que abordavam a associação entre vitaminas, câncer e doenças cardíacas. Os resultados desta análise foram publicados na revista Annals of Internal Medicine e levaram à conclusão que as evidências científicas existentes são insuficientes para avaliar os potenciais benefícios e prejuízos do uso de vitaminas em geral na prevenção de câncer e doença cardíaca.
O estudo concluiu também que, para betacaroteno e vitamina E, existem evidências científicas suficientes indicando que a suplementação com estas vitaminas não produzem nenhum benefício para a prevenção de câncer e doenças cardíacas, e que, particularmente, o betacaroteno usado como suplemento pode aumentar o risco de câncer de pulmão em fumantes.
A partir destas conclusões foi formulada a recomendação para as pessoas não usarem suplementação de betacaroteno ou vitamina E a fim de diminuir suas chances de desenvolver câncer ou doença cardíaca. Além disso, é desfeita a noção de que vitaminas são inócuas ao organismo. Este mesmo grupo de cientistas alerta que são vários os efeitos adversos causados por doses excessivas de vitaminas.
As recomendações com evidências comprovadas para prevenção de doença cardíaca e câncer incluem parar de fumar, controle de desordens lipídicas, controle da obesidade e da hipertensão.
Fontes
-Annals of Internal Medicine - online 25 February 2014 doi:10.7326/M14-0198
-U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF) recommendations on vitamin, mineral, and multivitamin supplementation to prevent cardiovascular disease and cancer. -Release Date: February 2014

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Uso de benzodiazepínicos aumenta o risco de Alzheimer

Os benzodiazepínicos compõem uma classe de medicamentos muito utilizados para combater a insônia e ansiedade. É relativamente comum o uso crônico dessas drogas em pessoas de idade, apesar das diretrizes internacionais recomendarem o uso somente por períodos curtos.
Estudos têm demonstrado que mesmo o uso esporádico produz um efeito agudo prejudicial à memória e cognição.
demência é uma das principais causas de invalidez e dependência nas pessoas de idade e afeta mais de 36 milhões de pessoas no mundo todo. O problema toma uma dimensão ainda maior com o aumento da expectativa média de vida da população.
Recentemente foi publicada uma pesquisa na revista médica British Medical Journal que investigou a relação entre o risco de doença de Alzheimer e a utilização de benzodiazepínicos. Em um estudo classificado como caso-controle uma amostra de 1796 indivíduos com diagnóstico de Alzheimer foi comparada com um grupo controle de 7184 pessoas sem a doença. O uso de benzodiazepínicos nos últimos 5 anos foi computado em ambos os grupos.
Os resultados demonstraram uma forte correlação entre o uso prévio de benzodiazepínicos e o risco do indivíduo desenvolver doença de Alzheimer. Risco este que pode aumentar em 50% comparado com os indivíduos que não usaram o medicamento. A associação é maior quanto maior o uso. Por outro lado, os participantes que utilizaram a medicação por menos de três meses não tiveram risco aumentado.
Esses resultados alertam que, mesmo sendo esta medicação importante no tratamento de insônia e ansiedade, principalmente em pessoas de idade , seu uso deve ser por um tempo curto, não devendo ultrapassar três meses.
Fonte
-British Medical Journal - 2014;349:g5205 doi: 10.1136/bmj.g5205

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Exercício reduz a vontade de urinar durante a noite em homens

É muito comum homens de meia-idade e idade avançada apresentarem hiperplasia prostática benigna (HPB), que é um aumento benigno da próstata.
A hiperplasia prostática pode produzir uma série de sintomas urinários que vão se acentuando com a idade. Desses sintomas, um dos que mais incomoda os homens é a nocturia (acordar mais de uma vez durante a noite para urinar). A nocturia é caracterizada como severa quando o indivíduo acorda mais de duas vezes por noite para urinar.
Efeitos positivos do exercício físico sobre a hiperplasia prostática benigna já estão bem documentados na literatura médica. No entanto, pouco foi analisado quanto a um possível benefício da atividade física especificamente sobre a nocturia.
Recentemente foi divulgada uma pesquisa na revista Medicine & Science in Sports & Exercise que aborda diretamente a relação da atividade física com nocturia. Os pesquisadores analisaram dados de mais de 4700 homens com idade de 55 a 74 anos. O estudo encontrou uma associação entre exercício e redução da atividade urinária durante a noite. Os homens que reportaram uma hora ou mais de exercícios por semana tiveram uma probabilidade 13 % menor de apresentar nocturia e 34 % menor de nocturia severa.
Cabe salientar que o tipo de análise realizada não permite afirmar que a redução é diretamente resultante do exercício. Os resultados podem ser atribuídos a muitas das consequências positivas do exercício sobre o organismo, desde a perda de peso até a redução da inflamação e da atividade do sistema nervoso, passando pela melhora nascondições de sono.
Entretanto, mesmo que não se saiba o motivo exato da melhora, a receita pode ser aplicada, já que este remédio não tem efeito colateral!
Fonte
-Medicine & Science in Sports & Exercise - DOI: 10.1249/MSS.0000000000000444

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A IMPORTÂNCIA DO SONO E AS PRINCIPAIS INTERFERÊNCIAS

O que é o sono?
Sono é o nome dado ao repouso que fazemos em períodos de cerca de 8 horas em intervalos de cerca de 24 horas. Durante esse período nosso organismo realiza funções importantíssimas com consequências diretas à saúde como o fortalecimento do sistema imunológico, secreção e liberação de hormônios (hormônio do crescimento, insulina e outros), consolidação da memória, isso sem falar no relaxamento e descanso da musculatura.
Qual é a real importância do sono?
Passamos cerca de um terço de nossa vida dormindo. Dormir bem é essencial não apenas para ficar acordado no dia seguinte, mas, para manter-se saudável, melhorar a qualidade de vida e até aumentar a longevidade. Nosso desempenho físico e mental está diretamente ligado a uma boa noite de sono. O efeito de uma madrugada em claro é semelhante ao de uma embriaguez leve: a coordenação motora é prejudicada e a capacidade de raciocínio fica comprometida, ou seja, sem o merecido descanso o organismo deixa de cumprir uma série de tarefas importantíssimas. O que nos aconteceria se não dormíssemos?
Em estudo realizado pela Universidade de Chicago – EUA, onze pessoas com idades entre 18 e 27 anos foram impedidas de dormir mais de quatro horas durante seis dias. O efeito foi assustador. No final do período, o funcionamento do organismo delas era comparado ao de uma pessoa de 60 anos de idade. E os níveis de insulina eram semelhantes aos dos portadores de diabetes. Em pesquisas de laboratório, ratos usados como cobaias não agüentaram mais de dez dias sem dormir. A conseqüência: morte por infecção generalizada.
É verdade que crescemos enquanto dormimos ?
Sim, é verdade. Na infância, cerca de 90% do hormônio do crescimento é liberado durante o sono. Crianças que dormem mal têm mais chances de ter problemas no seu desenvolvimento físico. O hormônio do crescimento continua sendo liberado mesmo na fase adulta. Embora em doses menores, isso continua ocorrendo durante o sono. Em pessoas adultas ele evita a flacidez muscular e garante vigor físico. Quais são as principais interferências ao sono?
As interferências ao sono poderiam ser classificadas em externas e orgânicas. Como exemplos de interferências externas poderíamos citar os trabalhos noturnos ou turnos rotativos, os eventuais problemas com fusos horários (em casos de viagens), as pessoas chamadas de corujas (que possuem mais energia ao entardecer!) e as chamadas de cotovias (deitam-se muito cedo e dormem cada vez menos com o passar do tempo!). Para exemplificar interferências orgânicas podemos citar o ronco, a apnéia (freqüentemente associada ao ronco), a insônia, a narcolepsia (sonolência diurna excessiva), o bruxismo (ranger de dentes) a síndrome das pernas inquietas e outras. O ronco e o bruxismo, geralmente, incomodam mais quem dorme nas proximidades do que quem apresenta o quadro clínico.
O que é apnéia?
A apnéia é o fechamento (colabamento) da passagem de ar ao nível da garganta pelos próprios tecidos da mesma (por isso freqüentemente está associada ao ronco) com conseqüente parada da respiração. Esse fechamento pode demorar vários segundos e até mesmo causar a morte súbita! Quem possui essa disfunção nem sempre a percebe e apresenta noites com “dorme e acorda” que podem chegar a 300 vezes! Você é capaz de imaginar como a pessoa levanta no dia seguinte?
O ronco e a apnéia podem ser evitados? Algumas providências podem ser tomadas como desde um posicionamento correto na cama à eliminação do hábito de tomar bebidas alcoólicas antes de dormir. A perda de peso pode eliminar depósitos de gordura na região do pescoço que são prejudiciais à passagem de ar, mas, alguns casos persistem e necessitam de tratamento. O que pode ser feito nesses casos?
A abordagem tradicional dos casos de ronco e apnéia tem na cirurgia (uvulopalatofaringoplastia) o seu maior armamento. Contudo, a cirurgia não apresenta índice de sucesso satisfatório (cerca de 40%) e deixa sequelas permanentes. Atualmente, está disponível a opção pelo uso do DAR (dispositivo anti ronco) que é um aparelho odontológico usado apenas para dormir, pequeno e simples que pode ser levado para qualquer lugar e apresenta excelente índice de sucesso (cerca de 87%). Contudo, o aparelho possui contra indicações e um exame clínico inicial deve ser feito.
Veja algumas dicas para melhorar a qualidade do seu sono: 
1. Antes de tudo, durma em um local confortável, fresco, escuro e silencioso. As alterações de ruído, de luz e de temperatura podem atrapalhar o sono;
2. Prepare-se para dormir. Crie seus próprios rituais como a meditação, o relaxamento, a oração ou outra técnica de controle da tensão. Anote em um caderno todos os seus problemas antes de dormir. Não vá para a cama com eles! Isso funciona como um santo remédio para muita gente;
3. Evite olhar o relógio a cada vez que acordar: este hábito pode piorar uma eventual noite de insônia;
4. Pratique exercícios regularmente, pois isso melhora as condições do organismo. Mas procure fazer ginástica até duas horas antes de se deitar;
5. Não durma com fome. Uma boa dica é beber um copo de leite morno antes de ir para a cama: o leite é rico em triptofano, que é um precursor da serotonina - substância envolvida no processo de sono;
6. Faça apenas refeições leves à noite. A partir dos 16 anos, a capacidade digestiva de nosso organismo começa a diminuir e uma digestão difícil atrapalha terrivelmente o sono;
7. Use a cama apenas para dormir, e não para ver televisão, ler ou jogar videogame, pois esses hábitos são desfavoráveis ao sono;
8. A melhor posição para dormir é de lado, com as pernas ligeiramente flexionadas e um travesseiro não muito alto apoiando o rosto. Não se esqueça de colocar uma almofada entre as pernas na altura dos joelhos. A densidade correta do colchão é fundamental!
9. Se estiver numa noite de insônia, não fique na cama forçando o sono. Levante-se, procure alguma atividade e só retorne quando sentir sono;
10. Cuidado com líquidos antes e, até mesmo, durante a noite, pois a necessidade de urinar irá interromper a seqüência do seu sono.

http://www.abcdasaude.com.br/odontologia/a-importancia-do-sono-e-as-principais-interferencias#ixzz3D6SkcmjW 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Barriga grande pode ser um problema de saúde sério, mesmo com peso e índice de massa corporal normal.

A obesidade é um problema que atinge um número cada vez maior de pessoas no mundo todo, aumentando o risco para várias doenças e morte prematura, o que a torna um problema de saúde pública.
A avaliação e caracterização da obesidade têm mudado nos últimos tempos.
Antigamente a avaliação era mais empírica e levava em conta, basicamente, o peso corporal, algumas vezes associado, intuitivamente, à altura da pessoa. Mais recentemente esta avaliação foi sistematizada e tornou-se mais precisa com a utilização do índice de massa corporal (IMC), também chamado índice de Quetelet, que relaciona o peso do indivíduo com a sua altura (o peso em Kg é dividido pela altura em metros ao quadrado). Os valores foram classificados em diferentes faixas, sendo os valores de 18,5 a 25 caracterizados como normais, de 25 a 30 como pessoas com sobrepeso, de 30 a 35 como obesos e acima de 35 como obesidade mórbida.
Estudos recentes têm sugerido que a circunferência abdominal é um fator independente de avaliação, que, isoladamente, poderia ser um indicador dos riscos causados pela obesidade.
Resultados de uma grande pesquisa de colaboração internacional, coordenada pela Clínica Mayo, dos Estados Unidos, foi publicada recentemente. O objetivo foi avaliar o efeito da circunferência abdominal sobre a mortalidade em todas as faixas de índice de massa corporal. Foram analisados dados de mais de 650 mil indivíduos de 20 a 83 anos, dados estes compilados de 11 estudos originados de várias partes do mundo.
A pesquisa apontou uma forte associação, positiva e linear, entre a circunferência abdominal e mortalidade. Quanto maior a circunferência maior o risco de morrer mais jovem, com ênfase em morrer de doença cardíaca, problemas pulmonares e câncer. Esta associação foi observada mesmo nos indivíduos com índices de massa considerados saudáveis.
Homens com circunferência de 110 cm ou mais têm um risco de morte 50% maior que aqueles com menos de 90 cm de circunferência abdominal, o que equivale a uma redução de 3 anos na expectativa de vida a partir dos 40 anos. Para mulheres, uma circunferência maior que 95 cm aumenta o risco de morte em 80%, quando comparado com circunferências menores que 70 cm, representando uma redução de 5 anos na expectativa de vida a partir dos 40 anos.
Este aumento de risco é linear para ambos os sexos. Para cada 5 cm de aumento da circunferência abdominal, o risco de morte aumenta 7 por cento para homens e 9 por cento para mulheres. Isto, independente do índice de massa corporal.
O motivo pelo qual pessoas, que não aparentam obesidade e têm IMC normal, porém apresentam uma barriga acentuada, terem maior predisposição a uma série de doenças e morte prematura, pode estar ligado ao fato que a gordura que se deposita no abdome tem um perfil metabólico diferenciado, associado a doenças como diabete e doença cardíaca.
Mais do que questão estética, a barriga aumentada pode ser a origem de problemas graves de saúde, mesmo nas pessoas com índices de massa corporal considerados saudáveis.
Conclui-se, portanto, que além do IMC, o controle da circunferência abdominal passa a ser um fator decisivo para a manutenção da boa saúde e longevidade.
Fonte
-Mayo Clinical Proceedings. March 2014;89(3):335-345

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Vegetais e frutas para prevenir doenças: quando mais, melhor!

Há mais de duas décadas evidências científicas consolidaram o conceito de que o consumo diário de frutas e vegetais traz benefícios à saúde. Baseada nessas evidências, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma recomendação, nos idos de 1990, para o consumo mínimo de 400 g por dia de frutas e vegetais. O consumo elevado desses alimentos demonstrou-se protetor contra doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Esta recomendação teve a adesão de muitos governos no mundo todo.
Um novo estudo de grandes dimensões realizado na Inglaterra, que avalia o efeito da ingestão de frutas e vegetais, acaba de ser publicado na revista científica Journal of Epidemiology and Community Health. Os pesquisadores examinaram os hábitos alimentares de 65.226 pessoas de 35 anos ou mais, por um período de 12 anos, entre 2001 e 2013. Foi encontrada uma forte relação inversa entre o consumo de frutas e vegetais com morte de qualquer causa, significando que o maior consumo destes alimentos diminui o risco de morte. O aumento do consumo de porções de vegetais, saladas, frutas frescas ou secas estão significativamente associadas a um menor índice de mortalidade.
Além disso, o alto consumo de frutas e vegetais foi associado com uma redução na mortalidade produzida por câncer e doenças cardiovasculares. O maior efeito foi observado com a ingestão de sete ou mais porções por dia, que está associada com uma redução de 42% no risco de morte em qualquer idade, quando comparada com a ingestão de menos de uma porção por dia. Os vegetais parecem ter um efeito mais pronunciado quando comparados às mesmas quantidades de frutas.
Mas atenção - o consumo de frutas congeladas ou enlatadas foi associado com um maior risco de mortalidade. No entanto a relevância deste achado deve ser examinada com cuidado, desde que consumir enlatados pode ser um marcador de estilo de vida pouco saudável. Este estilo de vida, e não os enlatados, pode ser a causa da maior mortalidade. Deve ser considerado, por sua vez, que as frutas enlatadas contem muito açúcar, o que anularia o efeito benéfico da fruta fresca.
Cabe salientar que este tipo de estudo não tem poder de estabelecer uma relação causal. Ele simplesmente aponta uma associação entre um fato (maior consumo de vegetais e frutas) com outro (menor mortalidade). Por si só, isto não prova que a menor mortalidade é devida ao maior consumo de frutas e vegetais. Por outro lado, os resultados demonstrando uma relação dose/resposta - cada porção a mais de vegetais ingerida por dia está associada a uma redução de 16% no risco de morte - serve como um forte indício de relação causa efeito.
Este estudo, devido a sua dimensão, vem para consolidar a já antiga recomendação da OMS de que o consumo de vegetais e frutas serve como uma proteção contra doenças e como um promotor de saúde, com um importante adendo: quanto mais, melhor!
Fonte
-Journal of Epidemiology and Community Health - doi:10.1136/jech-2013-203500

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Para emagrecer e diminuir o risco de doença no coração: restringir carboidrato é mais eficiente do que restringir gordura.

Obesidade e doença cardíaca são responsáveis por uma alta taxa de mortalidade e redução da qualidade de vida em todo o mundo. Ambas as doenças estão fortemente associadas ao estilo de vida, tendo o fumo, o sedentarismo e a má alimentação como principais fatores causais. No que tange à alimentação, muito tem sido debatido nos últimos tempos sobre qual o tipo de dieta é mais efetiva no combate à obesidade e doença cardíaca. Não está claro, no entanto, qual a dieta é a mais eficiente para emagrecimento e redução do risco cardíaco, se aquela que restringe gordura ou a que restringe carboidrato.
Na tentativa de contribuir para o esclarecimento desta questão foi realizada uma pesquisa que comparou os efeitos de uma dieta com restrição de carboidratos a uma dieta com restrição de gorduras sobre o peso e o risco do indivíduo de desenvolver doença cardíaca. O estudo foi publicado na edição de 2 de setembro da revista médica Annals of Internal Medicine.
A pesquisa foi realizada em 148 participantes divididos em dois grupos. Um recebeu uma dieta baixa em carboidratos e o outro uma dieta baixa em gorduras por um ano. Os participantes foram avaliados quanto ao seu peso, fatores de risco para doença cardíaca e composição da dieta aos 3, 6 e 12 meses. Ao final de um ano os indivíduos do grupo que restringiu carboidratos teve uma perda de peso em média 3,5 kg maior que o que restringiu gorduras, assim como uma redução maior da massa gorda. Comparados os grupos, o de restrição de carboidratos teve também uma maior diminuição dos níveis de alguns fatores que servem como prognóstico de risco cardíaco (proteína C reativa, proporção de HDL em relação ao colesterol total e os triglicerídios) em relação ao grupo de restrição de gorduras.
O estudo conclui que a restrição de carboidrato pode ser uma opção mais eficiente para as pessoas que queiram diminuir de peso e proteger seu coração.
Cabe salientar que é importante ter cuidado na possível aplicação desta conclusão! Certamente, simplesmente reduzir carboidratos, de forma generalizada, não é a solução definitiva. Basta recordar as últimas décadas, quando resultados de pesquisas elevaram a gordura à condição de "grande vilã" da saúde e maior inimigo do coração. A redução radical de ingestão de gorduras produziu um grande aumento na ingestão de carboidratos, provocando um crescimento assustador nos índices de obesidade, diabete tipo 2 e síndrome metabólica.
Os próprios autores da pesquisa comentam que a redução sumária de um macronutriente (como carboidratos) da dieta pode, além de não ser eficaz, produzir efeitos indesejados. Uma opção sensata é manter um equilíbrio entre os macronutrientes: os carboidratos a serem restringidos são os de alimentos processados e de bebidas adoçadas e aqueles presentes em vegetais, cereais e frutas, ricos em fibras, devem ser mantidos. A história científica dos últimos anos tem demonstrado que culpar um macronutriente exclusivo e retirá-lo da dieta tem produzido mais problemas do que soluções.
Fonte
-Annals of Internal Medicine - 2014;161:309-318. doi:10.7326/M14-0180

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A receita para reduzir o risco de demência e ter um cérebro mais ágil na velhice é uma vida intelectual ativa.

Com o crescente aumento da expectativa média de vida e maior longevidade, o contingente de pessoas que atinge a idade avançada é cada vez maior. Uma das consequências negativas deste benefício de viver mais está associada a um declínio cognitivo natural da idade e a um aumento do risco de demência. Isto tem concentrado muita atenção dos profissionais de saúde e dos governos que fixam políticas públicas de saúde.
Um estilo de vida que contempla a atividade intelectual é vista como uma forma de proteção do declínio cognitivo do idoso. A fim de testar esta possível associação, um grupo de pesquisadores desenvolveu um estudo que investigou como a atividade intelectual regular pode colaborar com a redução do risco de demência e piora cognitiva relacionados com a idade. A pesquisa acompanhou cerca de 1995 homens e mulheres entre 2004 e 2009. Os indivíduos foram avaliados no início do estudo e 1718 foram considerados cognitivamente saudáveis, enquanto 277 apresentavam uma deficiência cognitiva moderada.
A cognição era avaliada por diferentes testes de memória e capacidade de raciocínio. Dois principais componentes foram analisados em separado na história de cada participante, por meio de questionário:
1) o nível de educação formal e o tipo de ocupação (mais ou menos intelectual); e 
2) o grau de atividade intelectual (nos 12 meses anteriores ao estudo) na idade adulta (dos 50 aos 65 anos) e na velhice.
Foi considerada uma alta atividade de estímulo intelectual quem desenvolvia atividades estimulantes da cognição por, no mínimo, 3 vezes por semana, na idade adulta e na velhice. Estas atividades correspondiam a ler livros e revistas, atividades artísticas, jogos, tocar instrumentos musicais, atividades sociais e de grupos, assim como atividades no computador. O trabalho foi recentemente publicado online na revista científica JAMA Neurology.
Os resultados demonstraram que, independentemente da história educacional e ocupacional, somente o estímulo intelectual nas horas de lazer foi suficiente para reduzir o risco de demência e atrasar o declínio cognitivo em 3 anos, no mínimo. As pessoas com maior grau de educação e que tinham ocupação que exigia atividade intelectual obtiveram um benefício ainda maior.
Estes resultados servem como um sólido suporte para encorajar o desenvolvimento de atividades intelectuais, mesmo na velhice e mesmo que a pessoa tenha tido durante a sua vida um menor grau educacional ou estímulo intelectual no trabalho.
Sempre é tempo de se obter o benefício, independente da sua história.
Fonte
-JAMA Neurology - doi:10.1001/jamaneurol.2014.963 - Published online June 23, 2014.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Comportamento sedentário como assistir TV demais está associado a um maior risco de câncer.

A rotina diária das pessoas tem mudado muito nos últimos anos, com um aumento do tempo que a pessoa fica sentada no trabalho, principalmente no computador, e em casa nas horas de lazer, assistido TV, navegando na internet e jogando no computador ou vídeo-game. Evidências científicas sugerem que estes comportamentos sedentários compõem um fator risco independente para doenças crônicas (diabete, obesidade e doenças cardíacas) e mortalidade. Entretanto, nenhum estudo havia, até então, analisado o efeito desses comportamentos sobre o risco de câncer.
Um novo trabalho, publicado recentemente na revista científica Journal of National Cancer Institute, aborda especificamente o tempo assistindo TV, tempo sentado em outras atividades de lazer, tempo sentado no trabalho e o tempo médio total sentado durante o dia, e a relação com o risco de diferentes tipos de câncer. Os pesquisadores compilaram dados de 43 estudos observacionais já publicados e fizeram a análise do conjunto de resultados dos estudos individuais combinados, sobre os quais empregaram um tipo de tratamento estatístico chamado de meta-análise. O total incluiu 68.936 casos de câncer de um universo de participantes que, somados, atingiu cerca de 4 milhões de pessoas.
O resultado apresentou uma associação consistente entre o número de horas sentado durante o dia com um risco aumentado de câncer de cólon, de endométrio e de pulmão.
Os que ficam mais tempo sentados têm um risco 24% maior de desenvolver câncer de cólon, e 32% maior de endométrio, quando comparados com os que ficam menos tempo sentados durante o dia. Para cada 2 horas de tempo sentado o risco de câncer aumentou em 8% para cólon, 10% para endométrio e 6% para pulmão. Importante também o resultado de que o efeito foi independente da atividade física regular, ou seja, esta associação acontece mesmo nos indivíduos que têm atividade física, mas passam muito tempo sentados durante o dia. O exercício não compensa o efeito do tempo sentado.
Dos diferentes tipos de sedentarismo, o que apresentou maior relação com câncer foi o de assistir TV (risco 54% maior para câncer de cólon e 66% de endométrio), provavelmente porque durante este tempo as pessoas ingerem bebidas doces e comem alimentos industrializados, fatores que aumentariam o risco.
Estes dados indicam que, referente ao risco de câncer, o simples fato de levantar-se e dar uma pequena caminhada (mesmo dentro da sala) durante a jornada de trabalho e reduzindo as horas de lazer que o indivíduo fica sentado, principalmente assistindo TV, são estratégias que podem prevenir o desenvolvimento destas doenças.
Fonte
  • -Journal of National Cancer Institute (2014) 106(7): DOI:10.1093/jnci/dju098